quinta-feira, 7 de outubro de 2010

(In)Compatibilidade de gêneros

Aproveito minha liberdade de expressão pra falar o que penso aqui, sem querer ser proselitista nem ofender ninguém. Pessoalmente, acho um absurdo em pleno século XXI, existir um empecilho LEGAL à união homossexual, seja de dois homens ou duas mulheres, não importa. Como sou um protótipo de historiadora, vou me defender argumentando com o que eu sei e gosto: algumas sociedades indígenas, e as gregas, aceitavam o homossexualismo. Na Grécia, não era somente o preceptor que tinha relações sexuais com seu pupilo num ato de dominação, se acreditava que podia existir AMOR.Seria um amor entre IGUAIS, os homoi - que tanto originou "homem" quanto o prefixo de igualdade em "homogêneo". O fato das mulheres serem diferentes dos homens, era a prerrogativa que justificava a impossibilidade de um amor, de afinidades, posto que a mulher era excluída da vida pública, da educação e tudo o mais. As crianças eram criadas pela mãe que servia apenas de terra para que o homem fecunde, e seu pai mantinha relações com outros homens. Se a criança fosse menina, cresceria aprendendo que seu lugar é na cozinha, e um homem nunca a amaria ou a teria como amiga. Se fosse menino, ia crescer sabendo que a mãe fez seu papel de parir, alimentar e cuidar, e é pra isso que os deuses as fizeram; procuraria afinidades, amizades entre seus colegas homens. Pouco tempo depois, em Roma... quando o homossexualismo começou a ser condenado?Quando o cristianismo se tornou religião oficial -portanto obrigatória - do Império, isso em 313 d.C.
Durante a Idade Média européia nem é preciso dizer, que o homossexual era considerado um pervertido, um degradado que agia conforme o diabo quer. As punições eram duras. Nesse período, Igreja não se diferenciava de Estado; o Estado na verdade não existia, e o Senhor feudal encarregado era um homem como outro qualquer de seu tempo e espaço, que temia mais do que tudo o inferno. Agora, o amor era entre diferentes, o deus do cristianismo fez a mulher para amar e cuidar do homem e ser amada também. Conquista das mulheres? Longe disso.
Com todo esse machismo, o homossexualismo era sempre mais perverso, ou até - como hoje se vê-algo que excita mentes masculinas. O homossexualismo, por outro lado, é visto como o pior xingamento para um homem, ou uma música, ou uma roupa ["ai que música de gay" "que roupa gay" "que filme de viadinho"] e é muito comum que homens hostilizem os homossexuais para que eles ajam como a definição de "homem" do ocidente quer. Eu acho horrível, pessoas que acham que a opção sexual alheia, ou o jeito como a pessoa se veste e fala devido a sua opção sexual, tem qualquer coisa a ver com elas. É bem judaico-cristão esse julgamento de gênero, do que é o papel de cada sexo, e da noção de quem é - com o perdão da palavra- "biscate" ou não. Sexo em si é um tabu.
Hoje, século XXI, há o Estado, desde o século XV com Maquiavel, se discute que a igreja, a religião é algo subjetivo, algo que não pode ser imposto. Com os movimentos das minorias na década de 1960, algo mudou? Eu vejo no senso comum muito preconceito. MUITO. Brasil num é o país onde tudo é aceito e abraçado? É isso que o Brasil vende... desde Gilberto Freyre, e de maior alcance entre camadas diferentes das sociedades, Carmen Miranda ( que merecerá um post só pra ela). Hoje em dia, ainda tem 5 países que punem práticas homossexuais com a morte, países muçulmanos. Ora, eu não disse que a culpa da homofobia é do cristianismo, uso apenas como um marco pra sociedade ocidental. A sociedade, e a religião do Oriente Médio não falo, porque não tenho conhecimento. Continuando... homossexualismo não é considerado doença pelos psicólogos, e não é condenado por religiões cristãs como o espiritismo kardecista. É muito comum, que jovens homossexuais busquem apoio da família, as vezes encontram a violência física, as vezes a violência psicológica do "que decepção! crio um filho homem pra virar bicha. aonde foi que eu errei?", as vezes o discurso pseudo-compreensivo "filho, não fica triste, mamãe tá com você e Jesus vai te curar".
Não é uma doença, portanto não requer cura. Não considero OPÇÃO sexual, porque não acho que é algo que você possa escolher... senão ninguém optaria por um caminho difícil na sociedade ainda tão tacanha e preconceituosa. Discrepância hormonal? Pode ser. Alma de um sexo em um corpo de outro? Pode ser.
Te pergunto, você que se acha normal porque é hetero: você só se apaixona por bons partidos? Se sim, me ensina comofas, porque do mesmo jeito que você não escolhe estar apaixonada por aquele menino que te chifrou, ou te largou há tempos e você não esquece, os homossexuais se apaixonam por pessoas que acontecem ter o mesmo sexo que elas.
Feito esse ponto, outra coisa : estereótipos. Gay não é xingamento, não é um defeito, é uma característica. O que você, sua escola, seu trabalho, seu banco, têm a ver com quem você quer fazer sexo? O casamento gay não é legalizado, logo um homem não pode ser beneficiário de outro, como uma esposa. Jogo dos 7 erros: o que o Estado tem a ver com sua sexualidade? Porque uma mulher é mais esposa, que um homem que mora junto, ama e cuida, e divide bens e responsabilidades? Não são 7, força de expressão.
Se o casamento fosse legalizado, não quer dizer que as pessoas vão VIRAR gays. É ilógico pensar que as pessoas mudariam de opção sexual pra "aproveitar" que a lei não proíbe mais. Lei não serve pra opções pessoais, não tem uma lei que proíba as pessoas de comprarem papel higiênico folha dupla, tem quem goste tem quem não goste, e o que diz respeito ao meu corpo, dentro da minha casa é problema meu. Isso é o resumo de toda minha idéia: se é "moral "ou não gays adotarem crianças, se é prejudicial ou não, isso não concerne à lei punir. Religião você muda, porque ela não muda por você, pra te aceitar.
No meu ponto de vista, o único prejuízo para as crianças adotadas por 2 pais ou 2 mães, é que elas cresceriam sem preconceito, e preconceito é a arma mais poderosa da religião te afastar de coisas que ela considera que vão contra os preceitos de deus. Se não existisse preconceito, haveriam gays felizes, e a igreja não pode permitir que essa perversão se torne normal. Francamente, não estamos mais na Inquisição.
"As crianças sofreriam bulling" pelo amor, as crianças sofrem bulling por serem gordas, magras, ruivas, negras, usarem óculos ou aparelhos; não é isso que vai estigmatizar uma criança! Isso é intolerância de crianças ensinadas pelos pais héteros a repudiar e hostilizar quem é diferente, sobre o argumento de que eles é que estão errados. Como se existisse certo e errado em matéria de gosto, preferência.
Acho que homossexuais são perfeitamente capazes de se amar, e de criarem uma criança com amor, suporte, responsabilidade. Preconceito e moralidade já passaram da hora muitos séculos de serem extintos, não há moral certa, porque há culturaS, há conceitoS, nada é uno. E novamente, a igreja não pode manipular a lei, pra que a sociedade continue preconceituosa. Libertas e não auctoritas.
Pense nisso, e não "tolere", respeite. Entenda que a sua opinião pode não ser a certa, já que não existe uma opinião certa. Somos todos iguais, e diferentes, e as diferenças são ferramentas de aprendizado das pluralidades, e não devem ser suprimidas porque a unidade não é uma virtude. Ela era no feudalismo com o latim e o catolicismo, ela era no século XVIII com o nacionalismo da formação dos Estado-Nação. Hoje já se entende, ou deveria, que a pluralidade tem muito mais a ensinar, e muito mais a oferecer do que a unidade, a intolerância, a exclusão, marginalização.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O Homem e o Mundo Natural - Keith Tomas

"Na Inglaterra dos períodos Tudor e Stuart, a visão tradicional era que o mundo fora criado para o bem do homem e as outras espécies deviam se subordinar a seus desejos e necessidades. Tal pressuposto fundamenta as ações dessa ampla maioria de homens que nunca pararam um instante para refletir sobre a questão. Entretanto, os teólogos e intelectuais que sentissem a necessidade de justificá-lo podiam apelar prontamente para os filósosos clássicos e a Bíblia. A natureza não fez nada em vão, disse Aristóteles, e tudo teve um propósito. As plantas foram criadas para o bem dos animais e esses para o bem dos homens. Os animais domésticos existiam para labutar, os selvagens para serem caçados. Os estóicos tinham ensinado a mesma coisa: a natureza existia unicamente para servir os interesses humanos. [...]"

Fonte: Thomas, K. 1988. O homem e o mundo natural. SP, Companhia das Letras