terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Sobre Gratidão e Dona Maria

   Boa tarde, leitores inexistentes. Cortando um pouco o embalo das postagens da minha historinha, que eu pretendo fazer bem paulatinamente, tanto pra dar uma expectativa folhetinesca, quanto pra que eu produza mais, e bem.
   Ontem mesmo, eu estava me gabando, de como eu tenho que ser grata. Gabando sim, feliz de mim que tenho o que agradecer! Quem lê isso, pensa que aconteceu uma grande reviravolta na minha vida, fiquei rica e meus seios cresceram. Ledo engano. Agradeço pela minha saúde, por estar sarando de uma depressão que me impedia de ver beleza nas coisas; agradeço por ter dinheiro suficiente pra fazer os cursos e viagens que quero; agradeço por ter pessoas perto de mim que me fazem sentir tão bem; agradeço pela saúde e felicidade delas; agradeço pela tranquilidade que eu estou tendo diante das situações adversas da minha vida; agradeço a confiança, o amor à mim mesma que eu estou construindo. O fato que fez meus olhos brilharem, foi minha melhor amiga ter passado no vestibular que ela queria. As coisas boas se estendem àlgumas pessoas ao meu redor, que mais eu posso querer??
   Se eu fosse achar motivos pra reclamar, eu acharia. Acharia problemas na familia, defeitos no corpo, defeitos de personalidade que ainda não sei domar, a solidão, a falta de amigos na faculdade. Ixe, a lista se prolongaria. Mas eu não quero ser uma energia de sofrimento, que pede pede pede pra TUDO achando que tendo tudo, terão a satisfação. Quero ser a energia que agradece, que percebe tudo de bom, todas as melhoras, cada mínimo momento de tranquilidade, e é feliz por isso. É feliz, a ponto de ter a ESPERANÇA que as outras coisas terão seu momento de ser resolvidas, e que meu esforço é importante pra que as coisas de fato aconteçam, ou mudem. Sou agente da minha vida, e agradeço por ter muita coisa pouca, e sem importância real, pra sentir falta.
   Nesse espírito de gratidão, encontrei uma senhora no ônibus, que chamarei de Dona Maria (pseudônimo). Devia ter uns 56 anos, mais baixa do que eu, cabelinho branco preso num coque, o rosto queimado do sol. As rugas no seu rosto eram mais claras que o resto do rosto, porque ela provavelmente esteve muito tempo trabalhando, com o cenho franzido de preocupação, ou dor. A conversa inicial se deu, porque não queriam dar lugar pra ela no ônibus, e ela não queria insistir. Quando alguns passageiros reclamaram com as mulheres que estavam sossegadamente no banco de idosos, elas se renderam e levantaram, mas uma mocinha grávida entrou e sentou antes. O papo era "gravidez não é doença, eu não vou lá falar com ela, mas não tô me aguentando em pe´". Aquela senhora tão simples, sofre de epilepsia. Ela estava voltando do hospital, porque machucou a perna, se debatendo durante um ataque. Aquele suor, e aquelas rugas, tinham muito sofrimento. Ela me contou que tem muita dor nos ossos, e que tem amnésias de não saber aonde está na própria casa. A Dona Maria estava preocupada com o horário do almoço, porque o filho dela é caminhoneiro e precisava almoçar pra ir trabalhar. Na tentativa de tranquilizar e até divertir ela, sugeri que ela fizesse um Miojo, e não se esforçasse demais. E ela agiu como uma mãe, uma 'cuidadora'. "Ele não come essas coisas não. Ele precisa de feijão, de mistura, senão não aguenta o tanto de soja que carrega". E ela, ela aguentava o dia dela? Ela aguentava o dela e dos outros. Me contou que tem uma filha adotiva, que tem 13 anos e está noiva, ao ser indagada sobre o que pensava do rapaz, ela me respondeu "É um moço trabalhador.Precisa parar de fumar e falar palavrão". Me falava sem surpresa, com a naturalidade de quem já viu coisa demais nessa vida. Me contou que mora num bairro de traficante, que sua filha já foi ameaçada com arma, que já levou tiro na casa dela, que já colocaram droga no portão dela. Que os vizinhos de 15, 17 anos eram mortos, ou presos por causa de droga. Ainda falei pra ela, que era um consolo que a filha dela não se metesse com traficante, estuda e trabalha com 13 aninhos. Perguntei se a doença dela a afeta há muito tempo. Ela me disse que ficou assim, porque trabalhava demais. Era costureira. E o esforço excessivo e o barulho constante da máquina causaram uma espécie de surto no sistema nervoso, e deu no que deu.
No começo da conversa ela perguntou minha idade, e ficou surpresa com o "dezoito" que ouviu, disse que me dava quinze. Bem mereço quinze, porque se o rosto dela aparentava 56, talvez ela até fosse mais nova, mas tivesse vivido coisas demais. Me diz, essa senhora linda que conheci, não tinha todos os motivos do mundo, pra reclamar da vida, da saúde, da família, da segurança? Ela riu o tempo todo das minhas gracinhas, me chamou de "fia" o tempo todo, e me falando como Deus era bom, como ela era evangélica, e estava sendo protegida. Cara, e vejo gente dizendo "Deus não gosta de mim, se gostasse não me deixaria ser tão sozinho, teria amigos, teria auto-estima". Sinceramente, essa pessoa nunca mais falaria isso, se tivesse conversado com a Dona Maria, e percebido a luz nos olhos, e a vida em abundância que ela tem em si, diante de tantos contratempos. Bem dizer, ninguém tem motivos pra reclamar. Eles são motivos se você quiser que sejam.
    E do meio de tanta gente rica, bonita, saudável, até mesmo de freiras carrancudas, encontrei com a Gratidão numa senhora doente, pobre, que vive num lugar de perigo, que tem filho novo pra cuidar e não pode trabalhar, que precisa por a filha de 13 anos pra ser adulta noivar e trabalhar. Perguntei o nome dela, e me apresentei. Ela sorriu como se nada a incomodasse, como se conviver com tanta desgraça não consumisse a alegria dela, a esperança dela. De fato, não o fazia. Ela, com dor e meio desorientada, pôs a mão no meu ombro pra eu descer na frente, ainda querendo cuidar de mim. "Tenha um bom dia, viu. Que Deus te abençoe". Palavras sinceras da boca dela, que fizeram um efeito enorme no meu dia.
    Seja abençoada a senhora, Dona Maria. A senhora sabe viver. E sou grata por ter te encontrado. Vou rezar pela senhora e sua familia.
    E eu achando que tem gente que reclama de barriga cheia. Mas é lindo demais quando alguém de barriga muito vazia, é feliz, e não acha que tem do que reclamar. É raro, surpreendente. É um exemplo.
    Se você não consegue, ainda, perceber tanta coisa boa na sua vida, TENTE mudar o que está ao seu alcance, porque todos temos a capacidade de mudar o rumo da nossa vida. E o que não pode ser mudado [como quase tudo na vida da Dona Maria] saiba abraçar e conviver sem amaldiçoar sua condição, sem se tornar uma pessoa amarga. Agradeça, de todo modo. Não deixe que coisas ruins [ou muito ruins] te impeçam de aproveitar as coisas boas [ou menos piores]. Saiba aproveitar o que há de bom nas coisas.Saiba viver.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Verão I e II

Bom, leitores inexistentes, eu há um tempo escrevo um romance, que estou com vergonha de dizer o nome hahahaha vai ser surpresa quando for publicado! como tudo na minha vida, tem a ver com amor. espero que alguém goste =) os capítulos serão as 4 estações, cada estação vai ter subdivisões. aqui são as 2 primeiras da primeira estação, Verão.


Verão
I
"Meu amor,
Sei que agora pode ser tarde demais, mas depois que você sofreu esse acidente tenho pensado mais na minha vida, na nossa vida e na falta que você faz.
Em nossos poucos anos de casamento, estive ocupada demais pra receber teu amor ou te entregar o meu, e agora analiso como alguém que vê a situação de fora e reconheço teu esforço em estar sempre ao meu lado e demonstrar teus sentimentos.
Nem sei porquê escrevo isso, se você pudesse me ver, me chamaria de 'louquinha' e correria seus dedos pelos meus cabelos, como sempre fazia... sempre pensei que seria um eufemismo para não jogar minha tolice na cara, mas agora considero a possibilidade da sua sinceridade. E meu coração chora. Porque precisamos estar na iminência de perder algo para só então compreender que tudo poderia ter sido diferente.
A experiência é realmente um pente que a vida dá quando já não se tem cabelos, já não se pode mudar o que aconteceu, mesmo que se tenha aprendido que estava errado."
II
" Quando me contaram o que aconteceu, não pude conter as lágrimas, como fiz nesses últimos anos.
Eu estava cuidando das roseiras, quando minha mãe se aproximou com um misto de pesar e urgência.
- Filha, nós precisamos ir para o hospital...
- O que foi, mãe? O papai está bem?
- Sim, teu pai está bem... O Solano sofreu um acidente... - prosseguiu hesitante
- O que? - eu estava atônita, querendo saber mais detalhes e com um terrível medo dos tais detalhes
- Parece que um caminhoneiro bêbado bateu no carro dele...
- Um caminhão, meu Deus! - irrompi em lágrimas, imaginando a cena, como se pudesse ter te colocado dentro de uma redoma que te deixasse invulnerável
- Calma, Lu. O caminhão passou de raspão, poderia ter sido muito pior - mamãe pôs a mão em meu ombro e me olhou como se quisesse me por em seu colo - Quando a ambulância apanhou o Solano, ele teve alguns instantes de consciência e ele chamava o seu nome.
Podia até te ouvir dizendo baixinho "Luna, Luna". Como você pôde dizer meu nome, pensar em mim num momento como esse? Você... sempre pensando em mim primeiro. Talvez nos momentos de aflição eu fosse o seu consolo, a sua esperança, e me desculpe por não ter percebido isso antes.
De qualquer maneira, eu vim pro hospital assim que achei alguma força em mim pra aguentar impassível o que viria. Isso já faz um mês, ainda estamos no verão e eu sinto falta da sua voz.
Tenho ficado aqui com você todos os dias, do anoitecer ao nascer do sol, na parte da manhã e tarde sua mãe e seu pai estão revezando na vigília do seu corpo tão inerte.
Lembra das aulas de física? Nunca entendi física muito bem, mas lembro que diziam que os corpos tem uma energia guardada, que com um estímulo transformava a inércia em movimento. É assim que me sinto em relação a você, e beijo suas mãos e afago seus cabelos esperando que essa energia dentro de você possa transbordar, mas olho em seus olhos, fechados, sem resposta"


Continua =)

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Bruxas de Salém - Reflexões e Paranóias (11/01/2010)

Esse texto não passará de uma reflexão de uma pobre criatura sem leitores, embreagada de sono às 02:43hr da manhã, que assistiu o filme "As Bruxas de Salém" e ficou entrigada, portanto estou de licença poética pra cometer um erro crasso, pra usar vícios de linguagem ... enfim, pra ser eu mesma sem métrica, sem rima, fora do caderno de caligrafia.
Eu fico espantada, como o medo consegue levar os seres humanos à completa servidão. A Igreja, por todo medievo, foi um cabresto que alimentou os piores pesadelos e os maiores medos. Até porque espíritos e demônios, são invisíveis... e portanto, a culpa de todos os males inexplicáveis àquela época era jogada nos demônios. Pobres demônios! Tão ocupados com os humanos, tão preucupados em acabar com suas vidas ... a eterna luta por almas, entre deus e o demônio.
Tirando essa incoerência, eu concordo tanto com o Montaigne em certos aspectos! Ele disse no seu livro Ensaios, que a mentira afrouxa os laços sociais, porque a palavra é o único instrumento através do qual entendemos desejos e sentimentos uns dos outros. Nesse filme, muitas pessoas são mortas por causa de superstição, medo, e de uma grande mentira que foi se enrolando em uma teia. A mentira, de fato é odiável, e destrói a confiança, destróis vidas. Tenho raiva de mentirosos, mas pessoalmente eu sempre acredito em todos. Sou facilmente enganada, não desconfio de ninguém e nunca recuso ajuda ou consolo, mesmo que descubra depois ser uma mentira.
Esse filme é baseado num fato real, que matou muitas pessoas, porque uma negra contou à moças brancas católicas medrosas cegas pela fé, sobre sua religião vudu na África. As moças ficaram tão impressionadas que tiveram pesadelos, adoeceram, e a culpa foi toda pros demônios que estavam lá no inferno jogando pôquer e tomando uma gelada.Mais de 20 pessoas foram mortas por isso... acusadas de feitiçaria.
Feitiçaria seria temível já que não há como se proteger ou se defender de um espírito. Só não entendo como o pessoal daquela época, com uma fé tão grande e um teocentrismo tão inquestionável... podia cogitar que o grande deus poderoso não os protegeria das bruxas.
O quanto será que pesa o fardo de levar pessoas à forca? Ou será que pensavam estar ajudando e expurgando o mal do mundo?
Agora já são 03:02hr, e meu cérebro recusa-se a processar mais informação. Ele produz mais em liberdade, menos quando o questiono e o obrigo a trabalhar.
Ninguém vai ler mesmo, em todo caso... não gostei desse filme.